quinta-feira, 12 de março de 2009

Dica grátis: Resumo Iracema

IRACEMA
(José de Alencar )


José de Alencar foi antes de tudo um inovador, o primeiro que, destemidamente, se mostrou rebelde à tradição portuguesa. Sem dúvida um precursor da revolução modernista de 1922. Uma das marcas registradas de sua obra é o sentimento brasileiro. O índio que ele tanto cantou e exaltou, é a personificação de seu entranhado nacionalismo. Tanto que Machado de Assis declara que "nenhum escritor teve em mais alto grau a alma brasileira".
O seu estilo revela-se retórico, sonoro e brilhante, o que nada mais é do que o espírito de sua escola - o Romantismo. As suas paisagens, além do sentimento brasileiro, têm cores maravilhosas da nossa exuberante vegetação tropical. Ele não descreve cenas, quadros: pinta-os molhando o pincel nas mais vivas e variadas tintas. Conhecia o Português e conhecia a Gramática, mas sua preocupação estava acima disto: quis criar um estilo brasileiro, independente, pessoal, reflexo dos nossos modismos sintáticos e vocabulares, um linguajar brasileiro. Isso ele conseguiu; se não para os seu conteporâneos, mas para os pósteros que cada vez mais reconhecem sua originalidade e modernidade.

A obra romanesca de Alencar costuma ser dividida pela crítica em quatro áreas: a indianista, a histórica e a urbana.

a) os romances indianistas apresentam três fases do índio: civilizado e dominado pelos portugueses na luta pela conquista da terra - O Guarani; os primeiros contatos dos brancos com os nativos na civilização do Ceará - Iracema; e o índio em seu estado natural, sem interferência do branco, longe da civilização, em época indeterminada - Ubirajara.

b) Os romances históricos evocam nosso passado com As minas de prata, o primeiro romance histórico de nossa literatura; A guerra dos mascates, narrativa da famosa revolução de 1710, em Pernambuco, e, ainda através das crônicas dos tempos coloniais e das novelas O garatuja e Alfarrábios.

c) Os romances regionalistas focalizam as paisagens e tipos humanos do norte e do sul do país, através de O sertanejo e O gaúcho, reproduzindo costumes típicos e folclóricos dessas regiões.

O tronco do ipê e Til, considerados romances sociais, patenteiam também a corrente regionalista de Alencar. Com Til, retrata os costumes dos ambientes paulistas nas grandes épocas do café. Com O tronco do ipê, apresenta o panorama das fazendas do Rio de Janeiro.

d) Os romances urbanos caracterizam a corte e o meio social carioca do Segundo Reinado. São romances de amor, que espelham a mentalidade romântica da época, capaz dos maiores sacrifícios para solidificar esse sentimento. Neles, o autor cria diversos perfis de mulheres, vivendo no trato íntimo da sociedade, mas sem grande penetração psicológica. Exemplificam esse gênero: Cinco minutos, A viuvinha, A pata da gazela, Sonhos d'ouro, Lucíola, Diva, Senhora e Encarnação.

Além de romancista, Alencar foi teatrólogo, merecendo destaque as comédias Verso e reverso, O demônio familiar, As asas de um anjo, Noite de João além dos dramas Mãe e O jesuíta.

Como poeta, deixa-nos o poema indianista Os filhos de Tupã.

Iracema, romance de 1865, chamado por Machado de Assis de poema em prosa, chama a atenção, desde o início, pelo trabalho com a linguagem.

Em capítulos curtos, sobrepõem-se imagens sobre imagens, comparações sobre comparações, cada uma mais bela, original e adequada, para sugerir o nascimento de um novo mundo.

Como veremos a seguir, através do resumo do enredo, o livro de Alencar desenvolve a lenda da fundação do Ceará (Estado em que nasceu Alencar) e a história dos amores de Iracema e Martim.

RESUMO DO ENREDO

"Numa atmosfera lendária, de exótica e delicada poesia, desenrola-se a história triste dos amores de Martim, primeiro colonizador português do Ceará, e Iracema, jovem e bela índia tabajara, filha de Araquém, pajé da tribo. Martim saíra à caça com seu amigo Poti, guerreiro pitiguara, e perdera-se do companheiro, indo ter aos campos dos inimigos tabajaras. Encontra Iracema, que o acolhe na cabana de Araquém, enquanto volta Caubi , seu irmão, que reconduziria o guerreiro branco, são e salvo às terras pitiguaras. Iracema, porém, apaixona-se por Martim, traindo o segredo de jurema, que guardava como virgem de Tupã. Acompanha o esposo, deixando na sua tribo um ambiente de revolta, acirrado pelos ciúmes de Irapuã, destemido chefe tabajara. Desencadeia-se a guerra da vingança, e os tabajaras são derrotados; Iracema confunde as venturas do amor com as amargas tristezas que despertam os campos juncados de cadáveres de seus irmãos. Ao remorso e saudade outra dor se lhe acrescenta; o arrefecimento do amor de Martim que, para amenizar a nostalgia da pátria distante, ausenta-se em longas e demoradas jornadas. Num dos seus regressos, encontra Iracema às portas da morte, - exausta pelo esforço que fizera para alimentar o filhinho recém-nascido, a quem dera o nome de Moacir, literalmente na sua língua, filho da dor. Martim enterra o corpo da esposa e parte, levando o filho e a saudade da fiel companheira.

(Extraído do Pequeno Dicionário da Literatura Brasileira - Ed. Culturix)

ORGANIZAÇÃO

1) O gênero literário predominante na obra é o épico, caracterizado pela presença de um narrador, pela observação e pela visão do mundo exterior. Embora predomine o épico, Iracema apresenta também aspectos líricos, principalmente se se levar em conta a poesia de sua linguagem, marcada pelo ritmo e sonoridade, além da configuração altamente subjetiva, revelada sobretudo pelo tom metafórico que perpassa o romance.

2) A técnica narrativa utilizada é a terceira pessoa.O narrador é onipresente e onisciente: sabe tudo que se passa ao seu redor. Focalizando uma época que revela o início da colonização do Brasil, a visão em terceira pessoa, é sem dúvida, a mais adequada e coerente.

3) A linguagem é extremamente poética, o que nos faz imaginar as belezas, os deslumbres da mata virgem, da natureza. Além disso, durante todo o enredo, há a utilização de símiles que nos fazem visualizar , com maior precisão, o que o autor quer passar para o leitor.

4) Seguindo critérios mais ou menos subjetivos, podemos dividir o romance em três partes:

a) A primeira parte mostra o encontro de Iracema e Martim e o incontrolável amor que surge entre eles;

b) A Segunda conta a fuga de Iracema que abandona o lar, a família e os irmãos para viver com Martim, numa cabana distante, no litoral, vivendo aí a sua gravidez e uma profunda saudade e angústia;

c) A terceira relata o sofrimento de Iracema ao perceber que Martim não é feliz. Sofre calada até que a morte a chama.

5) Sem dúvida, a obra de José de Alencar se enquadra no estilo de época romântico em que se destaca o indianismo, que foi uma das formas mais significativas assumidas pelo nacionalismo romântico.

Podemos citar várias características do Romantismo, presentes na obra:

a) O culto e a exaltação da natureza;

b) A idealização de índio como um ser nobre, valoroso, fiel e cavalheiro;

c) Sublimação do amor e idealização da mulher;

d) Sentimentalismo amoroso configurado na temática amor e morte;

e) A concepção amorosa a partir dos sentimentos puros e castos.

6) Composto de trinta e três capítulos curtos, Iracema vem precedido de um prólogo e encerrado por uma "carta ao Dr. Jaguaribe", em que Alencar expõe os motivos patrióticos e sentimentais que o levaram a escrever o livro.

7) A ação do romance se desenvolve no Ceará, nos primórdios do século XVII, e se apóia em fatos históricos verdadeiros. Martim, o protagonista masculino da história, é Martim Soares Moreno, que deixou o seu nome inscrito na colonização do Brasil. Sua amizade a Poti e Jacaúna, chefe dos índios do litoral, foi decisiva para a conquista da região, que viria a ser o Ceará.

PERSONAGENS

1) Iracema - a virgem dos lábios de mel, que tinha os cabelos mais negros que a asas da graúna e mais longos que seu talhe de palmeira. O favo da jati não era mais doce que seu sorriso, nem a baunilha rescendia no bosque como se hálito perfumado. Era mais rápida que a ema selvagem. Índia da tribo tabajara, filha de Araquém. Demonstrou muita coragem e sensibilidade. Revelou-se amiga, companheira, amorosa, amante, submissa e confiante. Renunciou tudo pelo amor de Martim. Representa bem o elemento indígena que se casa com o branco para formar uma nova raça: a brasileira.

2) Martim - o seu nome na língua indígena significa "filho de guerreiro". Era português e veio ao Brasil numa expedição, quando fez amizade com Jacaúna, chefe dos pitiguaras, dos quais recebeu o nome de Coatiabo - "guerreiro pintado". Tinha nas faces o branco das areias que bordam o mar, nos olhos o azul triste das águas profundas, os cabelos do sol. Corajoso, valente, audaz, representa bem o branco conquistador, que se impôs aos índios na colonização do Brasil.

3) Araquém - pai de Iracema, pajé da tribo tabajara, tinha os olhos cavos e rugas profundas, compridos e raros cabelos brancos. Era um grande conselheiro, tinha o dom da sabedoria e da liderança.

4) Andira - irmão do pajé Araquém. Provou ser um grande e impetuoso guerreiro. É o velho herói. É feroz Andira que bebeu mais sangue na guerra que beberam já tantos guerreiros. Ele viu muitos combates na vida, escapelou muitos pitiguaras. Nunca temeu o inimigo. Seu nome significa "morcego".

5) Caubi - irmão de Iracema. Tinha o ouvido sutil, era capaz de pressentir a boicininga (cascavel) entre rumores da mata; tinha o olhar que melhor vê nas trevas. Era bom caçador, corajoso, guerreiro destemido que não guardou rancor da irmã, indo visitá-la na sua choupana distante.

6) Irapuã - chefe dos tabajaras, manhoso, traiçoeiro, ciumento, corajoso, valente, um grande guerreiro. Estava sempre lembrando a Iracema sobre a necessidade de se conservar virgem, pois ela guardava o segredo de Jurema. O seu nome significa "mel redondo". De certa forma, Irapuã representa, com sua oposição, um esforço no sentimento de guardar e preservar as tradições indígenas.

7) Poti - guerreiro destemido, irmão do chefe dos pitiguaras. Prudente, valente, audaz, livre, ligeiro e muito vivo. Tinha uma grande amizade por Martim a quem considerava irmão e de quem era aliado.

8) Jacaúna - o grande Jacaúna, o chefe dos pitiguaras, senhor das praias do mar. O seu colar de guerra, com os dentes dos inimigos vencidos, era um brasão e troféu de valentia. Era corajoso, exímio guerreiro, forte. Seu nome tem o significado de "jacarandá-preto".

9) Batuireté - avô de Poti, maior chefe. Tinha a cabeça nua de cabelos, cheio de rugas, Morava numa cabana na Serra do Maranguab (sabedor de guerra). Batuireté significa "valente nadador".

10) Jatobá - pai de Poti. Conduziu os pitiguaras a muitas vitórias. Robusto e valente.

11) Moacir - o nascido do sofrimento, o "filho da dor". É, na alegoria de Alencar, o primeiro brasileiro - fruto da união do branco com o índio. Mal nasceu, já exilava da terra que o gerou. Estaria nisso a predestinação errante da gente nordestina?

LINGUAGEM

1)Embora seja ainda de linha acadêmica, a linguagem de Iracema vem perpassada de um tom bem brasileiro; não só o farto vocabulário indígena o exemplifica, como também muitas construções sintáticas que revelam bem o jeito brasileiro de usar a língua portuguesa.

2) Destaca-se também, na linguagem de Iracema, o gosto por comparações com elementos do mundo focalizado pelo autor e que se casa bem com a postura selvagem do índio, que vive integrado na natureza. Esse recurso é freqüente livro, e não são poucas as passagens como esta: "O guerreiro pitiguara é a ema que voa sobre a terra".

3) O estilo de Alencar sempre primou pela exuberância do descritivismo, que se revela pela adjetivação fértil e colorida. Dono de uma imaginação prodigiosa, Alencar sabe rechear um texto de adjetivos e matizes que dão impressão de um quadro.

4) Dado o caráter poético da linguagem utilizada, Iracema é um romance quase poesia. A linguagem chega a aparecer ingênua, exatamente porque o autor quer captar o mundo selvagem do índio como ele é: a sua maneira de pensar e exprimir, as suas imagens poéticas, a sua visão das coisas. Em suma, em Iracema, Alencar procura adequar a linguagem ao mundo

focalizado.

5) Chamado de "poema em prosa" pela crítica, dado o ritmo e cadência de Iracema, mais de um autor procurou demonstrar o caráter de poesia do livro. Realmente, sobretudo a belíssima abertura do livro é marcada por um ritmo cadenciado, podendo as palavras ser distribuídas em versos de um poema tradicional:

Verdes mares bravios (6 sílabas)

de minha terra natal, (7)

onde canta a jandaia(6)

nas frondes da carnaúba; (7)

Verdes mares que brilhais (7)

como líquida esmeralda (7)

aos rios do sol nascente, (7)

perlongando as alvas praias (7)

ensombradas de coqueiros; (7)

Serenai, verdes mares, (6)

e alisai docemente (6)

a vaga impetuosa, (6)

para que o barco aventureiro (8)

manso resvale à flor das águas.” (8)

ASPECTOS TEMÁTICOS MARCANTES

1) Um dos propósitos de Alencar, ao conceber Iracema, foi, sem dúvida, mostrar como se deu a formação do Ceará, seu Estado natal - a terra onde "canta a jandaia", como significa "Ceará" ao pé da letra, e explica o autor: "Ceará é nome composto de cemo - cantar forte, calmar, e ara - pequena arara ou periquito".

Como se viu pelo enredo, Moacir, filho do cruzamento do branco (Martim) com o índio (Iracema), é o "primeiro cearense". A conquista da terra pelo branco, ocorrida nos primórdios do século XVII, deu-se através de lutas sangrentas em que os portugueses contaram com a valiosa ajuda dos índios pitiguaras, que habitavam o litoral.

2) Ao retratar o mundo selvagem e primitivo dos índios, Alencar reveste a sua prosa de um tom poético e ingênuo, , tentando, assim dar uma visão da realidade focalizada a partir da ótica do índio: as imagens, as comparações, a forma de exprimir mostram o índio integrado no seu “habitat” natural e como que sugerem o nascimento de um mundo novo; penetrando nas entranhas da terra virgem e selvagem, o branco conquistador iria fazer brotar uma nova raça.

3) Conforme vem explicado em “Literatura comentada”(“Abril Educação”), “todas as imagens de que Alencar se utiliza para se referir a Iracema são retiradas da natureza local, identificando Iracema claramente com essa natureza, fazendo-a símbolo do Brasil e, por extensão, da América. Um crítico já observou que Iracema é anagrama da América, isto é, Iracema tem exatamente as mesmas letras de América, só que em outra ordem. Assim, simbolicamente, a morte da índia, no final da estória, pode representar a aniquilação da cultura nativa pela invasora que conquista domina a terra”.

4) Apresentando o índio integrado de forma harmoniosa à natureza, como é comum na visão romântica, Alencar, obviamente filtrando a realidade pela ótica do português, não mostra claramente a ação devastadora do conquistador branco. Conforme observa Zenir Campos Reis, da USP, “Martim, o guerreiro do mar, vai pertubar a harmonia do índio no seu habitat natural. Seus silêncios encobriam a palavra domínio. Para ele, a adesão à terra não podia ser senão momentânea. Seu objetivo era subjugá-la, pela sedução ou pela violência. Ele era o primeiro agente de um processo de corrosão lento e insinuante, violento às vezes, que se chamou, sucessivamente, catequese, progresso, desenvolvimento.”

5) De sentido igualmente simbólico se reveste a oposição de Irapuã ao hóspede branco, protegido por Araquém (Martim). Ao opor-se a ele, o guerreiro tabajara não quer defender o amor que nutria pela virgem dos lábios de mel; sua resistência é, antes, em defesa da preservação da cultura indígena e do “segredo de Jurema”. Do qual Iracema era guardiã. Violada a sua virgindade pelo invasor branco, fatalmente as tribos seriam dizimadas e aniquiladas.

Assim, embora possa parecer o “vilão da estória”, opondo-se a Martim, o gesto de Irapuã reveste-se de nobreza e grandeza, pois outro lado, a conduta de Iracema (e também Poti), que se aliam ao conquistador branco, é passível de condenação. Como se viu, Iracema morre, desfigurada pela dor e pelo estrangulamento cultural; Poti, descaracterizado e tornado cristão, recebe o batismo de gente civilizada e passa a se chamar Antônio Felipe Camarão...


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